ABERTURA
O Prêmio João Canuto nasceu em 2004, comouma forma de reconhecimento do trabalho desenvolvido por pessoas ou instituições em prol dos Direitos Humanos.
João Canuto foi uma liderança camponesa - comunitária, sindical e política - assassinada em Rio Maria, no Pará, em 1985. De morte anunciada muitas vezes e finalmente realizada sem que as autoridades municipais, estaduais e federais o protegessem. Participaram na época da conspiração para sua morte diversos fazendeiros e três prefeitos da região. Há 13 anos, nós do MhuD – Movimento Humanos Direitos, relembramos com honra o nome de João Canuto em nossa premiação.
O Movimento Humanos Direitos (MhuD) foi fundado após um e-mail que o ator Marcos Winter, em 5 de dezembro de 2002, enviou ao padre Ricardo Rezende Figueira. Nele, Marcos, considerava que todo artista tinha uma responsabilidade social. E perguntava se não seria interessante criar uma “associação” de artistas que se envolveriam com o tema dos direitos humanos. Os artistas ofereceriam sua visibilidade na mídia em favor de pessoas e instituições que abraçassem causas justas. Dessa forma, eles fariam denúncias de violações aos direitos humanos como o trabalho escravo contemporâneo. Buscariam apoiar causas, a partir de informações seguras, que pudessem ser acompanhadas por grupos locais.
E a ideia ganhou corpo. Em janeiro de 2003 foram realizadas as primeiras reuniões do MhuD, que tem, desde então, desenvolvido uma série de atividades em prol da paz e dos direitos humanos, com um olhar especialmente voltado para os problemas do trabalho escravo, dos abusos praticados contra crianças e adolescentes, as questões dos quilombolas, do meio ambiente e dos povos indígenas.
Para cumprir seu propósito, o Movimento Humanos Direitos atua por meio de execução direta de projetos, indo aos locais conflagrados, dando apoio aos ameaçados, mostrando a cara e levantando a bola dessa gente de luta que jamais se entrega. Unindo forças, o MhuD realiza programas e planos de ações, procurando contribuir com a sociedade, cooperando com outras organizações já existentes, para ampliar a visibilidade sobre os crimes cometidos contra os direitos humanos no Brasil e no mundo. É nosso propósito atuar na divulgação das causas sociais, participando de debates e atos públicos. Nós do Movimento Humanos Direitos acreditamos que só o envolvimento popular, a reflexão, o diálogo e o debate, podem promover mudanças para o aprimoramento de uma consciência cidadã.
Sérgio Marone entrega o Prêmio João Canuto para Dadá Borari
Odair José Alves de Souza, Dadá Borari, casado, pai de oito filhos, cresceu na Aldeia Novo Lugar, às margens do Maró, rio que forma o Arapiuns, um dos principais afluentes do Tapajós. Até a adolescência, nunca havia ido a Santarém, maior cidade da região e distante 14 horas da aldeia em viagem de barco a motor. Quando criança, Dadá passava o dia entre brincadeiras nos igarapés, acompanhando a mãe no plantio da mandioca ou na coleta de frutos como o açaí. Também gostava de sair para caçar cotia e paca. A mata era mais que uma fonte de recursos. Era sagrada.
Eram tempos de calmaria nessa região do Tapajós, depois do conturbado ciclo da borracha no início do século XX, época em que conviveram povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, pescadores, seringueiros, caboclos e migrantes de diversas partes do País. Populações que formam as comunidades ribeirinhas da Amazônia de hoje.
Quando Dadá estava no final de sua adolescência, essa espécie de éden acabou. O governo do Pará decretou que aquela terra que os indígenas borari chamavam de lar passaria a se chamar Gleba Nova Olinda, destinada a empresários sulistas do setor madeireiro. Que estavam sendo expulsos das terras dos índios caiapó, mais ao sul do Estado do Pará. Assim que os madeireiros chegaram a Nova Olinda, a serra elétrica começou a roncar. Preocupado, o tio de Dadá, Higino, então cacique da aldeia, chamou o jovem para conversar. Dadá seria o seu sucessor. Mandou o menino para Santarém estudar como funciona a política dos “portugueses”. Queria que o sobrinho aprendesse os caminhos políticos para transformar a região onde os borari viviam em uma terra indígena oficialmente reconhecida e protegida. Desde então, juntamente com seu tio/avô cacique da aldeia e outras lideranças, iniciaram a luta para livrar seu território da atuação de madeireiros, ao mesmo tempo que buscavam, junto ao Estado brasileiro a demarcação de suas terras.
Esta luta rendeu a Dadá Borari o ódio de madeireiros e seus aliados, que então passaram a ameaçá-lo de morte. Em 2006 as ameaças mais duras foram sofridas. Dois atentados foram cometidos contra sua vida. Dadá foi incluído no Programa Federal de Proteção a Defensores de Direitos Humanos e no ano de 2007 passou a receber proteção policial.
Por sua luta já recebeu o Prêmio José Carlos Dias, da Ordem dos Advogados do Brasil - Seccional do Pará. Também coordenou o Conselho Indígena Tapajós Arapiuns entre os anos 2003 a 2006, que representa todos os povos indígenas do Baixo Tapajós.
Formou-se em magistério indígena e hoje desenvolve a atividade de professor das disciplinas Notório Saber e de língua nhengatu para 32 alunos do pré-escolar até o 5° ano, nas escolas do Território Indígena Maró, onde mora. Também coordena um projeto em seu território chamado “Vivência na TI Maró”, envolvendo os estudantes das escolas. Este evento é realizado no mês de setembro, durante a semana da Pátria, para evidenciar a cultura indígena em contraponto às atividades cívicas realizadas nas escolas tradicionais. Este ano o evento contou com 137 participantes entre indígenas e convidados.
Dadá também colabora com outras aldeias com atividades de notório saber e com oficinas de autodemarcação e monitoramento de território.
Fonte: http://www.humanosdireitos.org/atividades/premio-joao-canuto/1052-Premio-Joao-Canuto-2017.htm
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